Mulheres do Salgueiro: qualificação profissional para emancipação feminina e defesa da vida
Por Rose Silva
O coletivo Mulheres do Salgueiro surgiu em 2006 com a missão de defender os direitos das mulheres da comunidade e sua inclusão em atividades produtivas por meio de cursos de qualificação em moda, costura, economia criativa e solidária e geração de renda. A organização é sediada em São Gonçalo (RJ), mas suas ações já se expandiram para outras localidades. Além de inúmeras ações na comunidade, realizou quatro festivais culturais, incluindo a Feira do Circuito Fluminense de Cultura Popular e Economia Solidária, que contou com mais de 3 mil visitantes e 150 expositores das regiões de São Gonçalo, Niterói, Maricá e Itaboraí.
Uma das fundadoras do coletivo é Janete Nazareth, que se mudou para o Salgueiro aos dois anos de idade, onde se casou e teve duas filhas. Quando se separou, encarou o desafio de criá-las e começou a participar de um movimento cuja perspectiva era pensar em alternativas de geração de trabalho e renda para as trabalhadoras do lixão, onde havia muitas mulheres no subemprego e em condições bastante precárias. “A gente começou a ficar inquieta em relação a isso, e, como naquele momento, São Gonçalo era considerado um polo têxtil, a costura aparecia uma alternativa para que essas mulheres tivessem uma qualificação e deixassem de trabalhar no lixão. Eu era empregada formal de uma fábrica de costura no Rio na época”, conta.
Por meio da parceria firmada entre duas instituições, uma brasileira e outra alemã, a Mulheres do Salgueiro receberam assessoria técnica e desenvolveram um projeto, com o qual conquistaram os primeiros aportes financeiros, compraram uma sede e migraram do campo das ideias para as ações.
“A partir de então, meu envolvimento foi total, pois me identifiquei com essa perspectiva de vida e, ao mesmo tempo, acabei saindo da fábrica. Ao 36 anos entrei na faculdade, fiz pedagogia na UF por entender que a educação é minha ferramenta, o que possibilitou me empoderar mesmo nesse território”, relata.
No início a organização era focada na geração de trabalho e renda, mas logo as fundadoras se deram conta de todas as questões que peram a vida das mulheres que moram em favelas e o desafio que era a gestão desse projeto. Perceberam logo que a luta de fato era pelo direito à vida. “Quando a gente pensa em direito à vida, estamos falando mesmo dessa matéria física, tendo em vista a violência do Estado que a gente acaba sofrendo. Por isso, pensar na emancipação dessas mulheres acaba por ter um recorte de geração de trabalho e renda, de qualificação profissional, e também de formação cidadã. Por isso a educação permeia todas as nossas ações”, afirma Janete.
O coletivo oferece gratuitamente um curso de qualificação profissional gratuitamente para as mulheres e, durante as aulas de costura e modelagem, abre espaços para falar sobre empreendedorismo, o papel da mulher na sociedade, os marcos históricos de violência vividos pelas mulheres ao longo da história. E trabalha também a partir de editais públicos ou com empresas privadas, além de manter um bazar que funciona com doações de peças novas por uma rede de lojas.
Saiba mais: https://www.instagram.com/mulheresdosalgueiro/